quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Jardim

Há um tempo, ouvindo Titãs ("Os cegos do castelo"), fiquei pensando que ninguém pode cuidar de jardim alheio, só do próprio. Fiquei pensando que o máximo que se pode fazer é inspirar os outros a cuidarem do próprio jardim. Inspirar. Nada mais (se bem que inspirar não é pouco, aliás, por vezes, é tudo o que se necessita, não é mesmo?).

Agora, lendo uma entrevista de Zygmunt Bauman à Cult (sim, a revista), essa questão me voltou à cabeça por causa de uma resposta que transcrevo a seguir:


"Cult - Por que se fala tanto hoje de 'fim das utopias'?

Bauman - Na era pré-moderna, a metáfora que simboliza a presença humana é a do caçador. A principal tarefa do caçador é defender os terrenos de sua ação de toda e qualquer interferência humana, a fim de defender e preservar, por assim dizer, o 'equilíbrio natural'. A ação do caçador repousa sobre a crença de que as coisas estão no seu melhor estágio quando não estão com reparos; de que o mundo é um sistema divino em que cada criatura tem seu lugar legítimo e funcional; e de que mesmo os seres humanos têm habilidades mentais demasiado limitadas para compreender a sabedoria e harmonia da concepção de Deus.

Já no mundo moderno, a metáfora da humanidade é a do jardineiro. O jardineiro não assume que não haveria ordem no mundo, mas que ela depende da constante atenção e esforço de cada um. Os jardineiros sabem bem que tipos de plantas devem e não devem crescer e que tudo está sob seus cuidados. Ele trabalha primeiramente com um arranjo feito em sua cabeça e depois o realiza. Ele força a sua concepção prévia, o seu enredo, incentivando o crescimento de certos tipos de plantas e destruindo aquelas que não são desejáveis, as ervas 'daninhas'. É do jardineiro que tendem a sair os mais fervorosos produtores de utopias. Se ouvimos discursos que pregam o fim das utopias, é porque o jardineiro está sendo trocado, novamente, pela ideia do caçador."

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