domingo, 29 de novembro de 2009

Oxidação



Gosto dessa imagem de um trabalho de Marcelo Silveira. Embora ele use madeira, esse trabalho me lembra que a gente precisa deixar que alguns sentimentos se oxidem. Se oxidem pra que a gente siga vivendo. Com o mínimo de danos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ajuda

Silencia. Pra ver se a dor esquece de estalar. Como tal permanece. E a dor passa a ser latente. Ainda em silêncio. E a dor paralisada, coberta de pus. Descobre então que, embora não seja preciso gritar, também não pode continuar em silêncio. Procura, enfim, um analista: na crença que quer ter, profissional que limpa o pus e vai tratando a ferida.

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Escrevo e lembro de Zeca Baleiro cantando "a depender de mim, os analistas estão mortos. Sou eu quem trata [não lembro] com aspirina, [não lembro] e com cachaça..."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

cartas

recusava-se a render-se às novidades tecnológicas. só sabia escrever costurando com a tinta no papel o sentimento. era como se a tinta lhe prendesse um pouco da vida.

Paisagem

Um poema sobre você
Tentei escrever
Tentei mas o que escrevi foram uns versos
Sobre a chuva
A chuva que sempre vem
Limpar a paisagem

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Vulnerabilidade

Você encerrou a tarde
Eu disse
Mas engano meu
A tarde só se encerra pela mesma razão
O crepúsculo

A tarde não é suscetível
Digo e engano-me de novo
A tarde é sim suscetível
Como a gente
Ou talvez nós
Sejamos suscetíveis como a tarde
Como a tarde suscetíveis
À chuva

sábado, 21 de novembro de 2009

Evidência

Rachado é o solo, quando tem dor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Necessidade

As janelas precisam estar abertas, para que a atmosfera mude. E continuar abertas, para que não se instale o mofo, para que a atmosfera não se torne de plástico.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

anônima

andava perdida pela cidade desconhecida. não reconhecia aquelas ruas ou muros cinzas. nada daquilo lhe pertencia. não havia rostos conhecidos ou amigáveis. estava perdida. sentia-se anônima por inteiro. percebia que a cada passo que dava seu nome apagava-se um pouco mais. e as memórias se esvaíam. era como se estar naquela cidade a qual não pertencia lhe tirasse a própria identidade.
finalmente encontrara o seu abrigo, o seu refúgio. ela mesma. e o anonimato que só o desconhecido podia lhe dar.

Concha

Deita sobre o próprio corpo
Como concha
Porque não tem quem lhe suspenda
No ar





A imagem aí de cima é da pintura "O passeio", de Chagall.

sábado, 14 de novembro de 2009

Risco

Ela espera você na estação de trem, mas, em lugar disso, preferia estar partindo. É que ela sabe dela como não pode saber de você, externo a ela. Ela preferia estar partindo porque, então, não correria o risco das surpresas, não correria o risco de você ter se tornado um estranho.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

só em outro lugar diferente do seu habitat, ela abria as asas e revelava a sua verdadeira forma: livre.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Adeus

O adeus é feito de silêncio. Nele já não cabem promessas.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Casa

Todo lugar é casa quando se pode enxergar a lua.

a derrota da esperança

No fim, a esperança restou derrotada
A vida derrotada
E o que me sobra?
Um aperto no peito,
um cansaço infindo
e a saudade do que não foi

sábado, 7 de novembro de 2009

Da série "Tão legal que dá vontade de dividir"



Essa é daquelas imagens que vejo e logo penso em postar aqui. Me deparei com ela no postsecret (www.postsecret.com). Não sei se gosto mais da pintura ou do texto, mas sei que elas dizem tudo o que é preciso. Dizem e silenciam a gente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ritual

Numa garrafa de vodca põe as folhas das histórias que precisa esquecer. Põe e deixa que elas se dissolvam no álcool, que se decomponham no álcool.

Após tudo terminado, respira aliviada. Aliviada por saber que, diferentemente de si, o álcool não tem memória, razão por que o que nele se dissolve, na verdade, nunca existiu.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Beco

Alerta de que é preciso voltar e refazer o caminho.

domingo, 1 de novembro de 2009

melindres do tempo


"Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo..."
(Caetano Veloso)

Errante

Por medo das âncoras, ela vagava sem rumo.