terça-feira, 31 de março de 2009

Godot

Não adianta esperar Godot, porque ele nunca vem. Talvez por não existir. Ou, quem sabe, por simplesmente não poder corresponder ao que dele se espera.

segunda-feira, 30 de março de 2009

nestes dias o tempo para
os problemas desaparecem
e a única distância permitida
são uns centímetros entre minha boca e a tua

Uns versos

Mesma história
Mesma hora
Mesa torta
Artéria aorta
A última porta

domingo, 29 de março de 2009

Cosmópole

Beijos paulistanos
Abraços prussianos
Afagos africanos
Carícias nova-iorquinas
Amores vãos

sábado, 28 de março de 2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

Mamam

Se eu não tou enganada, a última exposição do Mamam (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, que, pra quem não conhece ou não lembra, fica na Rua da Aurora, do lado oposto da Conde da Boa Vista ao cinema São Luiz) foi a mostra Fluxus (acervo Paulo Brusky). Ela teve inicio no dia 02 de novembro de 2007 e terminou no dia 13 de janeiro do ano passado, conforme informação que acabo de obter no folder que guardo.

Lembro do dia em que fui ver essa mostra. Foi logo no começo de janeiro, no dia 04, uma sexta-feira. Fui porque precisava desesperadamente de transcendência e, pra mim, o Mamam, desde que o descobri e juntamente com o mar, é, aqui em Recife, o lugar que mais me proporciona o transcender. Deve ser por isso que eu o adoro.

Tenho bem nítida na memoria a imagem de um poema que rabisquei nesse dia, enquanto ouvia, numa salinha lá no fim do primeiro andar, um dos cds postos à disposição dos visitantes. Como aquilo me fez bem! Não bastasse isso, ainda pude transcrever os versos em uma das paredes do primeiro andar, que tava à disposição pra que se rabiscasse o que se quisesse. Outra coisa que me fez bem!

Deve ser por isso, por o Mamam, de alguma forma, me salvar nos momentos mais dolorosos, que eu o prezo tanto. Deve ser por isso também que eu escrevo esse post, pra dizer que eu simplesmente não entendo como desde janeiro do ano passado ele, o Mamam, foi fechado pra instalação de um elevador e, acho, pra algumas pequenas reformas e assim continua, fechado, não foi reaberto. Ainda escrevo esse post pra dizer que, como eu, outras pessoas sentem falta e se inquietam por não poderem visitar aquele lugar tão confortador e pra registrar que, como eu, muita gente espera que, logo, ele esteja aberto novamente. Ele esteja de braços e portas abertas.


Os versos que rabisquei aquele dia:


Setembro

Quando chegar setembro
Eu decido
Se amo ou
Se esqueço
Se me aconchego ou
Se permaneço
Ao desabrigo

Quando chegar setembro
Nove meses se terão passado
Desde hoje
E, então, será mais fácil
Dar à dor atual
Sua devida medida

Só que
Talvez
Quando chegar setembro
Talvez
Quando setembro chegar
A dor atual já não importe
Nem o desabrigo

quinta-feira, 26 de março de 2009

Livro/caderno lúdico

Acho que, no fim do ano passado, me deparei com um livrinho que achei bem legal. Legal porque lúdico. Chama "caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho". Imaginei que não fosse vê-lo mais, quero dizer, que não mais fosse encontrá-lo posto em destaque em qualquer livraria da cidade. E, sem encontrá-lo posto em destaque e sem lembrar o nome do livro/caderno nem o nome da autora, eu não ia ter como comprá-lo. Embora tivesse adorado o "livro", havia me conformado com a ideia de que não o teria, porque não mais o encontraria.

Pra minha surpresa, entro eu, ontem, na mesma livraria em que o tinha visto pela primeira vez, e ele tava exatamente no mesmo lugarzinho de antes. Depois de ficar exultante e feliz, pra não abusar da sorte, comprei-o de uma vez.

Pensem em um livro/caderno lúdico. Pois é, ele é assim.

Talvez algumas pessoas o considerem meio bobo. É uma pena!

Ontem aproveitei pra mandar o cansaço embora fazendo alguma das atividades sugeridas. Ontem também me veio, talvez pela primeira vez na vida, saudade de uma caixa de lápis de cor, necessaria pra execução de algumas atividades, como, por exemplo, a que diz "Colorir o sapo que você acabou de engolir". A caixa de lápis de cor já tou providenciando, mas, neste momento, acabo de lembrar que ainda preciso providenciar um outro item, um corretivo, pra executar uma tarefa ("Esvazie a cabeça: apague suas tarefas com corretor e desenhe um bom corte de cabelo, um chapéu de palha, uns raios de sol...").

Raios de sol pra todos nós!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Da série "Tão legal que dá vontade de dividir :)"



Achei uma graça esse ready made de Marcos Chaves (postei a capa de um livro dele aqui, outro dia). Chama 'azeite' e brinca com aqueles bonequinhos que boa parte das avós tinha em casa pra colocar sal, palitos e otras cositas na mesa.

Deleite pros olhos e pra memória. :)

terça-feira, 24 de março de 2009

à flor da pele

essa é uma música tão feminina.
tão representativa do humor e hormônios femininos
cíclicos...

pois é, tenho andado á flor da pele


"Ando tão à flor da pele
Qualquer beijo de novela
Me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar "flor na janela"
Me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Meu desejo se confunde
Com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele
Tem o fogo
Do juízo final..."

Uma canção

De repente, não mais que de repente, percebi que essa canção é linda. :)
Na verdade, acho que foi a interpretação de Vinícius, Tom (Jobim) e Miúcha em um show feito na Italia e lançado em dvd que me fez despertar pra esses versos. :)


"Canto de Ossanha
Composição: Baden Powell/Vinícius de Morais

O homem que diz dou, não dá
Porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz vou, não vai
Porque quando foi, já não quis
O homem que diz sou, não é
Porque quem é mesmo é não sou
O homem que diz tô, não tá
Porque ninguém tá quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor

Vai, vai, vai, não vou

Eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou

Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor

Amigo senhor Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha não vá
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu orixá:
- amor só é bom se doer

Vai, vai, vai, vai amar
Vai, vai, vai, vai sofrer
Vai, vai, vai, vai chorar
Vai, vai, vai, vai dizer

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou

Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor"

segunda-feira, 23 de março de 2009

Profilaxia

Ele me falou que não existe profilaxia pra dor de cabeça. Discordei em parte, em silêncio. Disse a mim mesma que existe, sim, profilaxia pras dores de cabeça anunciadas, mas ela só é recomendável quando a gente não corre o risco de ficar matutando sobre o que poderia ter sido e não foi.

domingo, 22 de março de 2009

epifania

o pôr-do-sol
a exuberância
as cores
silenciam a fala
e os motores do carros engarrafados

Terra

Lendo sobre o resultado do julgamento da demarcação da Raposa Serra do Sol, pensei que, para os índios, a terra é parte deles. Pensei também que isso é bastante belo, que isso, de uma forma que a gente talvez não entenda, preenche a pessoa.

Ao mesmo tempo, pensei no nomadismo e me perguntei se ele possibilita o encontro da completude. Na verdade, ainda estou me perguntando.

sábado, 21 de março de 2009

Creep

Não anda difícil ligar a televisão e ouvir falar de Radiohead, né? Pelo menos até domingo, quando eles se apresentam em São Paulo, é de se imaginar que deve continuar assim. Eu que tenho visto muito pouca TV já há algum tempo, liguei, quarta, o aparelho da sala aqui de casa e, entre uma coisa e outra, vi o clipe de "Creep", de Radiohead. Vi, lembrei dos meus 16, 17 anos e de como eles foram embalados por "Why does it always rain on me?", de Travis, e "Creep" e cantarolei, com uma nostálgica felicidade.


"Creep

When you were here before,
Couldn't look you in the eye
You're just like an angel,
Your skin makes me cry

You float like a feather
In a beautiful world
I wish I was special
You're so fucking special

But I'm a creep,
I'm a weirdo
What the hell am I doin' here?
I don't belong here

I don't care if it hurts,
I wanna have control
I want a perfect body
I want a perfect soul

I want you to notice
when I'm not around
You're so fucking special
I wish I was special

But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doin' here?
I don't belong here, ohhhh, ohhhh

She's running out the door
She's running out
She run run run run...
run... run...

Whatever makes you happy
Whatever you want
You're so fucking special
I wish I was special

But I'm a creep,
I'm a weirdo
What the hell am I doin' here?
I don't belong here

I don't belong here..."


Pra quem quiser assistir:
http://www.youtube.com/watch?v=nxpblnsJEWM

sexta-feira, 20 de março de 2009

Útero

O mar é o grande útero

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cometas

Antonieta trazia, nas costas, como que o desenho da trajetória de cometas.

Para ela, isso servia para lembrar-lhe que, talvez, a gente seja feito do mesmo pó das estrelas.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Flores

Ela não lembrava mais muito bem. Na verdade, ela tinha a lembrança nítida. Ele chegando em casa com flores para pôr na água. Flores pra darem cor e vida à casa e às vidas dela e dele. Sim, ela se recordava bem. Só não lembrava da frequência com que ele fazia isso. Não sabia mais se era todos os dias, se era quando ia ao supermercado, não lembrava. Isso, porém, era só um detalhe sem importância. O que importava é que ela conservava a recordação daquelas flores e aquela recordação carregava consigo algum frescor. Ao menos, o frescor necessário à vida, o frescor bastante para impedir-lhe de recorrer às flores de plástico, para impedir-lhe de apegar-se a simulacros, agora que ele já não estava lá. O frescor suficiente para ajudar-lhe a reerguer-se e encontrar força e motivo para ela mesma passar, enfim, a comprar flores.

terça-feira, 17 de março de 2009

concisão

tirar do armário todas roupas, sapatos, cds, papéis, lembranças supérfluas.
tirar do vocabulário as palavras supérfluas.

ater-se à essência das coisas.

segunda-feira, 16 de março de 2009

do tempo das coisas

Para Luaní e Thaís




"Quem souber com acerto a quantidade de vagar ou de espera que se deve pôr nas coisas não corre nunca o risco ao buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas."
(Raduan Nassar)






Há algum tempo atrás essa foi uma frase muito importante na minha vida.
E eu me esforcei deveras para aprender todo o significa que ela contém.
Não apenas aprender, mas exercitá-lo.
Isso é que difícil.

Ainda tento aprendê-la e exercitá-la.
É um exercício difícil e diário...

A calma é dos sentimentos mais difíceis.
Aprender a calma
em tempos em que tudo ao errado a desensina.
É preciso acalmar o coração...
Deixar o tempo agir.
Deixar que o acaso aconteça.

E hoje essa frase continua sendo importante para mim.
Por outros motivos, mas com a mesma intensidade.

É porque é difícil desaprender a nossa arbitrariedade com a vida...
E assim cada uma a sua maneira e com seu motivo, precisamos aprender a calma.

domingo, 15 de março de 2009

Ícaro e o Intocável.


A lenda diz que Ícaro voou. Porém, ao se aproximar do Sol as suas asas de cera derreteram e Ícaro caiu no mar. Não acredito na parte final da lenda.

Quem tem o céu, não escolhe o mar.
Ícaro ao voar, encantou-se com o Sol.
Cegado pela claridade.
Ícaro sentia a beleza e grandiosidade.
Ícaro decidiu tocar o Intocável e Invisível.

As asas de Ícaro derreteram. Mas ele não caiu. Ícaro segurou-se num dos raios do sol. Segurou o que não se pode tocar. E embora suas mãos queimassem Ícaro não soltou o raio de Sol. Não, ele não temia a queda, o mar, a morte...

Ícaro queria ser Sol. Então, por mais que suas mãos queimassem e ficassem vermelhas, Ícaro não soltou o raio de Sol. E fez do raio de Sol sua morada.

É por isso, que pouco antes de se pôr o sol lança seu raios alaranjados, vermelhos. São as mãos queimadas de Ícaro. As mãos queimadas e realizadas.

As mãos que tocam o Intocável. As mãos que tocam o Invisível. As mãos que acreditam que tudo é possível.

Eis a verdadeira história de Ícaro.

O mar

É bom saber que ele tá lá, de "braços" abertos. É bom saber que basta a gente chegar.

Hoje eu chego! :)

sábado, 14 de março de 2009

Provérbios

Andei lembrando de "O fabuloso destino de Amélie Poulin", lembrando da colega de trabalho de Amélie que diz que uma pessoa boa sabe provérbios. Vou postar uns chineses, pra gente quem sabe ser melhor:

"Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça."

"A quem sabe esperar, o tempo abre as portas."

"Dinheiro perdido, nada perdido; Saúde perdida, muito perdido; Caráter perdido, tudo perdido."

"O fracasso é a mãe do sucesso."

"Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje."

"Melhor é acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão."

"Há três coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida."

"A alegria e a dor não vêm por si; respondem ao chamado dos homens."

"Se o problema tem solução, não esquente a cabeça, porque tem solução. Se o problema não tem solução, não esquente a cabeça, porque não tem solução."

"O tempo que passas a rir é tempo que passas com os deuses."

"A gente todos os dias arruma os cabelos: por que não o coração?"

sexta-feira, 13 de março de 2009

intertextualidade

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que está numa cela.
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado."
(Mário Quintana)


Eu conheço e gosto deste poema há tempos.
Mas o reli, por acaso, ontem à noite.
É claro que me lembrei do meu último post...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Do tempo

Às vezes, embora as coisas tenham ocorrido há pouco tempo, parecem tão distantes, parecem mesmo mais distantes do que coisas outras que, na linha do tempo, vieram primeiro e, portanto, deveriam parecer mais apartadas. Acho que isso não é lá um grande problema, porém. Problema é quando o pêndulo do tempo parece não se mover.


oxigênio

é que essas coisas da vida real, da vida prática me cansam.
as coisas necessárias.
me sufocam.
tem palavra mais sufocante do que "necessidade"?

a necessidade não deixa espaço para poesia.
ou prosa. ou prosa-poesia.
como queiram...

por isso, leio.
escrevo.
faço da literatura meu oxigênio.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Auto-ajuda

Cercar-se de vida por todos os lados

terça-feira, 10 de março de 2009

Escolhas

Quem nas últimas duas ou três semanas foi ao cinema do Plaza descobriu que, lá, agora, é preciso escolher, na hora da compra do ingresso, o lugar em que sentar no cinema.

Da primeira vez em que tive de escolher, já achei a idéia chata. Fiquei pensando que a gente já tem tanta coisa pra escolher na vida, tanta coisa pra escolher todo dia, que inventar mais uma é só querer aumentar, no fim das contas, a complexidade de tudo. Tá, eu sei que escolher uma cadeira pra sentar no cinema é uma escolha simples, que não envolve maiores consequências e que, portanto, não precisa de tanta reflexão. Mesmo assim acho que a gente podia ser poupado disso, acho que, pra assistir a um filme, a gente não precisa de tanta cerimônia pra escolher o lugar. Pelo menos esse lugar, acredito, a gente pode escolher, ou podia, como quem anda "sem lenço e sem documento".



"Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo."

segunda-feira, 9 de março de 2009

do que é bonito, sem mas ou mais

"dando à luz
uma estrela da manhã
toda luz da manhã
passou por uma estrela

amamentar a Estrela
enquanto a Via Láctea
tiver leite"
Alice Ruiz

Sem exageros

Nada de luminosidade sem cessar
Nada de letreiros
Nada de claridade sem fim

Sim, noite com lanternas
Noite com estrelas
Noite com uma vela acesa

domingo, 8 de março de 2009

curtas

tenho gostado da cor amarelo.
é que ela carrega a vida.
carrega o sol.

***

tenho preferido os dias de sol.
é que neles há mais vida e movimento.
a vida passa pela janela.
intensa.
eu, desprentensioamente, exponho-me aos raios de sol.
e então carregando o sol como a um amuleto
saio
e vou viver a vida.

e a chuva, por outro lado, é sempre tão preguiçosa...

***

não sou das pessoas mais tecnológicas.
na certa, não uso metade dos recursos que meu celular tem.
na verdade, nem os conheço...
mas ser acordada com uma boa música
confesso que é um dos meus pequenos prazeres diários.

"eu vou te dar alegria
eu vou parar de chorar
eu vou raiar o novo dia"

***

nos últimos dias fui um pouco babá dos meus primos.
e observando e dialogando com eles
percebi que as crianças realmente fazem perguntas impensadas
e respondem as perguntas de formas inusitadas
e tudo real.
não é invenção poética.
as crianças deliram o verbo.
e tudo é engraçado.
sem nenhuma teoria literária.

***

eu sempre fui arbitrária com a vida.
gosto de me sentir no controle de seus rumos.
sabedora dos caminhos, atalhos, encontros...
mas ando pensando
que isso é o fácil.
é muito fácil percorrer exatamente o caminho traçado.
a graça está é no traço desajeitado.
desalinhado, desengonçado.

o difícil é deixar que o acaso aconteça.

Possibilidades



Tão logo vi essa imagem, de um trabalho da artista plástica Lais Myrrha ("Deslocável"), meu pensamento remeteu-se aos cacos e às inúmeras possibilidades de construção que eles oferecem.

sábado, 7 de março de 2009

Segredo

Ocupar a cabeça
Com o que
Não enlouqueça

sexta-feira, 6 de março de 2009

Um poeminha

Rabiscos escritos há já um tempo:


Perspectiva

O olho
É molho
Onde mergulho
O mundo

quinta-feira, 5 de março de 2009

Sobre a urgência. E a necessidade de calma

Aprendeu, no curso da vida, a querer as coisas com urgência. Não que a vida lhe tenha ensinado que as coisas devem ser obtidas com urgência. Não. Foram as outras pessoas, por meio de seu comportamento, que lhe ensinaram que as coisas devem acontecer com urgência. Assim, mesmo a vida não lhe tendo ensinado, aprendeu.

Mas a vida, a vida que não podia coadunar com aquele comportamento, simplesmente pelo fato de ele não lhe ser próprio, começou, uma hora aqui, outra ali, a indicar-lhe que daquele jeito não podia continuar. Nessas ocasiões, ela compreendia e prometia a si mesma que ia mudar. O fato, porém, é que não mudava. Na verdade, ela se acostumara com a urgência, ela queria resolver a vida toda no "aqui e agora". Preocupação e inquietação de quem ainda não tem uma estrada propriamente delineada, é verdade, mas, ao mesmo tempo, preocupação que, uma vez incorporada, seria difícil de deixar de lado, difícil de deixar de lado mesmo quando a estrada já se mostrasse clara.

Ela tinha um teoria. Acreditava que a vida, como forma de obrigar-lhe a parar e a refletir sobre a sua ânsia de imediatidade, vez por outra, fazia com que gripasse. Gripes daquelas fortes mesmo, fortes a ponto de trazerem consigo tontura e de só deixarem ela restabelecer-se depois de tomar injeção. Gripes fortes a ponto de fazerem-na brincar, dizendo que, talvez, um dia, viesse a morrer de gripe. Era só uma brincadeira, improvável de concretizar-se, ela imaginava, mas que, se, dentro do campo do mais absolutamente improvável, se concretizasse, não, a responsabilidade não seria da vida, que todo o tempo só lhe tivera cuidado, mas dela, dela que, embora avisada, insistira, até o fim, em ignorar os alertas.

Pelo menos quanto a esse último tema, o de como ia ser o final, ela acreditava ter alguma calma.


"De Onde Vem A Calma
Composição: Marcelo Camelo

De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente
Ele não saber ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil

De onde vem o jeito tão sem defeito
Que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso tão indeciso
Tá se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são
Não solta da minha mão
Não solta da minha mão

Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado rei de mim."


A Marina e a Glauber, que, talvez sem saber, andaram me inspirando calma.

terça-feira, 3 de março de 2009

Subversão. Ou, talvez, surrealismo. :)

Compartilhando:

"O verdadeiro terrorismo é o absurdo mais terrível, por exemplo: o do homem que se apaixona por um fio de cabelo da amada, e quer viver com ele, dormir com ele, ter um filho com ele..."

(Fernando Sabino, "O encontro marcado")

segunda-feira, 2 de março de 2009

Janelas e corredores

Sempre gostei de sentar na janela, nos ônibus. Também nos carros. Gostava de sentar na janela e de observar. De uns meses pra cá, porém, tenho evitado as janelas. Tenho preferido sentar ao lado do corredor dos ônibus. Sentar ao lado do corredor, e não junto à janela. Pra não ser espectadora da vida, mas personagem. No mínimo, ao menos, pra tentar.

domingo, 1 de março de 2009

Doçura

"Do nada", me veio o pensamento de que (Dorival) Caymmi e Fernando Sabino talvez levassem consigo a mesma doçura.