sexta-feira, 31 de julho de 2009
Sobre doces e tristeza e prazer
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"Não tinham andado muito, quando viram a Tartaruga Falsa à distância, sentada triste e solitária numa pequena saliência de rocha, e, quando chegaram mais perto, Alice a ouviu suspirar como se o coração fosse se partir aos pedaços. Sentiu muita pena dela? "Qual é a sua tristeza?", perguntou ao Grifo. E o Grifo respondeu, mais ou menos com as mesmas palavras de antes: "É tudo fantasia dela, ela não tem nenhuma tristeza. Vamos!'"
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"(...) ela se compadeceria de suas tristezas simples e encontraria prazer em todas as suas alegrias simples, lembrando-se da sua própria infância e dos dias felizes de verão."
(Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas)
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Todo o sentimento
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
(chico buarque)
Dança
"Disse a branquinha ao caracol: "Vê se apressa esse passo!
Pisam na minha cauda, há um delfim em nosso encalço."
Lagostas e tartarugas, ansiosas, avançam!
Esperam entre os seixos - você vai entrar na dança?
Não vai, vai, não vai, você vai entrar na dança?
Vai, não vai, vai, você não vai entrar na dança?
"É tão delicioso, você nem pode imaginar,
Quando nos atiram, com as lagostas, para o mar!"
Mas, disse o caracol, "Longe demais", sem confiança...
Ficava muito grato, mas não ia entrar na dança.
Não, não podia, não, não ia entrar na dança.
Não, não ia, não, não podia entrar na dança.
"Longe? Mas e daí?", respondeu a amiga escamada.
"Você bem sabe que existem praias do outro lado.
Se longe da Inglaterra, muito mais perto da França...
Meu caro, não tenha medo, trate de entrar na dança.
Não vai, vai, não vai, você vai entrar na dança?
Vai, não vai, vai, você não vai entrar na dança?'"
(Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas)
quarta-feira, 29 de julho de 2009
leveza
Este haikai é de um livro de Alice Ruiz e Maria Valéria Rezende só de haikais voltado para o público infantil. Quer dizer, também para crianças.
terça-feira, 28 de julho de 2009
Amizade
Celebração
Meu chá não é acompanhado por torradas
Mas por cream cracker
Cream cracker que como de pé
Na cozinha, enquanto olho a lua
Nesses momentos, meu coração celebra, silenciosamente, o que não foi
Sem mágoa
Apenas recordações
De desejos deixados de lado
De desejos que deram espaço
A outros
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Sonhos
Dias depois, na sexta, assistindo a "As pontes de Madison", uma outra fala também sobre sonhos me chamou a atenção. Dizia mais ou menos assim: Os sonhos que não se concretizaram ficaram pra trás, mas que bom que, por algum tempo, eu os tive comigo.
Que bom!, porque, com os sonhos, dá pra fazer um arco-íris.
sobre homens e mulheres
Não sou muito afeita a divisões maniqueístas entre mulheres e homens, mas não pude deixar de achar esses resultados bem representativos do ponto de vista inicial de ver o mundo do homem e da mulher.... E quando falo isso não estou de modo algum dizendo que é bom sempre partir de si ou do outro. Acho que nas duas situações o excesso é péssimo.
Alice deve ter chegado a alguma conclusão parecida e em função disso fez um poema, posteriormente musicado em que ela decide tirar "você" do dicionário.
"Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário
E no seu lugar
Vou colocar outro absurdo
Eu vou tirar suas impressões digitais
Da minha pele
Tirar seu cheiro
Dos meus lençóis
O seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos "nãos" se faz um sim
Eu vou tirar o sentimento
Do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento
A qualquer momento
Procurar outra lembrança
Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz
Dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não tido
Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos "nãos" se faz um sim"
domingo, 26 de julho de 2009
Domingo
sábado, 25 de julho de 2009
Tempo
"Se você conhecesse o Tempo como eu conheço", disse o Chapeleiro, "não falaria em desperdiçá-lo como se fosse uma coisa. É um senhor."
"Não entendo o que você quer dizer", disse Alice.
"Claro que não entende", disse o Chapeleiro, atirando a cabeça desdenhosamente para trás. "Acho que você nunca sequer falou com o Tempo!"
"Talvez não", respondeu Alice cautelosamente, "mas sei que tenho de bater o tempo, quando estudo música."
"Ah! Isso explica tudo", disse o Chapeleiro. "Ele não suporta ser batido. Agora, se você mantivesse boas relações com o Tempo, ele faria quase tudo o que você quisesse com o relógio. Por exemplo, vamos supor que fossem nove da manhã, bem na hora de começarem as aulas. Você só teria de sussurrar uma dica para o Tempo, e o ponteiro giraria num piscar de olhos! Uma e meia, hora do almoço!"
("Como gostaria que fosse", disse a Lebre de Março para si mesma num sussurro.)
"Seria maravilhoso, certamente", disse Alice pensativa, "só que ... eu não estaria com fome."
"A princípio, talvez não", disse o Chapeleiro, "mas você poderia manter o relógio marcando uma e meia por quanto tempo quisesse."
"É assim que você faz?", perguntou Alice?
O Chapeleiro sacudiu a cabeça tristemente. "Não!", respondeu. "Brigamos no mês de março passado ... pouco antes de ela ficar louca, sabe..." (apontando com a colherinha para a Lebre de Março) "... foi no grande concerto dado pela Rainha de Copas, e eu tinha de cantar
'Pisque, pisque, morceguinho!'
O que faz aí sozinho?'
Você talvez conheça a canção."
"Já escutei algo parecido", disse Alice.
"Continua", disse o Chapeleiro, "da seguinte maneira:
'Sobre o mundo voa ao léu,
Bandeja de chá no céu.
Pisque, pisque...' "
Nesse momento, o Arganaz se sacudiu e começou a cantar dormindo "Pisque, pisque, pisque, pisque...". E continuou a cantar por tanto tempo que tiveram que lhe dar um beliscão para fazê-lo parar."
(Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas)
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Labirintos
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Imitação (ou Cerca elétrica II)
Isso tudo me faz lembrar de "O equilibrista" (sim, o documentário) e me leva a pensar que, talvez, Philippe Petit, o equilibrista que inspirou o filme, tenha, no fundo, caminhado da Torre Sul à Torre Norte do World Trade Center sobre um cabo de aço apenas pra se sentir um passarinho. É, um passarinho.
espairecer manoelino
pente funções de não pentear. Até que ele fique à
disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma."
***
"As coisas não querem mais ser vistas por pessoas
razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul -
Que nem uma criança que você olha de ave."
***
"Poesia é voar fora da asa"
Manoel de Barros (O livro das ignorãças)
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Cerca elétrica
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Mundo. E desmundo
Por muito tempo, eu achei que o meu mundo fosse "O mundo da lua", o mundo de Lucas Silva e Silva, mas, hoje, sei que não, sei que tenho o meu próprio mundo e tento me recordar sempre do caminho que a ele conduz. Sim, porque, por vezes, sei que vou me perder.
domingo, 19 de julho de 2009
Retorno
Mas gosto do retorno. De chegar ao meu aconchego. Onde todos os caminhos já foram percorridos. Até as paredes me reconhecem e me acolhem. O calor conhecido da cama. O cheiro sereno da casa. Que adentra meu peito e renova o sangue. Sou acolhida pela cidade. Me sinto num ninho por entre os braços do Capibaribe. As ruelas e as suas gentes. O cheiro nem tão agradável da cidade. O vento forte perto do cais. As chuvas desses dias julhinos que fazem subir o cheiro forte de terra. O cheiro de terra forte.
É bom pôr os pés em solo conhecido.
E já não há casa ou cidade. Não existem esses elementos distintamente. Há apenas uma casa-cidade
E a terra e as águas desta cidade me constituem.
E por isso só sou por inteiro aqui.
Realidade
(Zeca Baleiro, Brigitte Bardot)
Talvez seja isso a realidade: a alma, o que persiste dentro da gente, as coisas que a gente treina os olhos pra eles verem e a gente internalizar.
sábado, 18 de julho de 2009
Pasárgada
"Eu vou me mandar
Peguei meu jaleco
Nesse teu xaveco eu não caio mais
Eu vou me mandar, eu vou pra Cancun
Teu 171 não me pega mais"
(Zeca Baleiro, Débora)
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Ser
Estabilizador de humor
O meu sonífero
Meu antidepressivo
Ser tudo isso
Mas apenas ser
Sem ser demais
Sem ocupar espaço demais
Ser
Mas sem ser
Autossuficiente
Sem roubar espaço
A outras gentes
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Imperativos
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Luz
Porque sempre há alguma luz, algum verde, ainda que, por vezes, seja difícil de perceber. Alguma luz, mesmo que fora da nossa janela, mas luz ou verde que, de algum modo, adentra nossa janela. Porque a luz e o verde sempre se expandem.
Pra um amigo que anda precisando de luz.
Sim, a pintura aí de cima é da mineira Patrícia Leite.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Reinvenção
A Luaní, que, hoje, completa anos e inicia, assim, um novo ciclo.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Pra começar a semana
Que vivamos!
(Mia Couto; Venenos de Deus, remédios do diabo)
sábado, 11 de julho de 2009
Porque
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Cinza, vermelho e poesia
As suas leis, regras, etiquetas, teorias.
Os seus ternos, gravatas, saltos altos e maquiagens.
As suas máscaras ou armaduras ou armadilhas.
No direito é sempre inverno.
E os tons são de cinza.
De fato, não há poesia nas leis.
Talvez eu tenha escolhido o curso errado.
Talvez, tudo seja culpa do vermelho...
"Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."
(Manuel Bandeira)
Frases de Mia Couto
"- Uma coisa aprendi na vida. Quem tem medo da infelicidade nunca chega a ser feliz."
"Todavia, o mar é o habilidoso desenhador de ausências" e isso, fiquei pensando, quando a gente deixa que certas memórias caiam na nossa zona abissal.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
terça-feira, 7 de julho de 2009
Passar
E me chama
Quando vejo, já passou
Passou mas
Talvez sem saber
E talvez sem querer
Ou talvez sabendo
E talvez querendo
Me fez ver
É preciso aprender
A passar
Passar
E seguir viagem
Levando somente o canto
O canto que ensina
A passar
O canto que é canto
Pra anunciar
A chegada
E a despedida
Canto de todos
O mais perfeito
Canto que ensina
O desapego
Porque quem chega chega e começa
A partir
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Vida
"Vida
Composição: Indisponível
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz"
domingo, 5 de julho de 2009
Partidas
Antes tinha medo das partidas, mas elas foram se tornando frequentes e fui conhecendo-as melhor. Fui conhecendo-as mais e mais, até, finalmente, ter confiança pra brincar com elas, sim, brincar, como fazem as crianças, com total entrega. E foi assim que as partidas se tornaram minhas amigas, amigas que me ajudam a fazer cafuné nos sonhos e a criar sonhos novos, necessários pra que eu continue a me sentir viva e pra renovar o brilho dos olhos.
Ontem, pensando na viagem de que falava logo no começo deste post, lembrei de um verso de (Manuel) Bandeira que a minha amiga que viaja hoje, uma vez, me mandou. Diz assim: "Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir". Na ocasião, ela me escreveu (compartilho porque sei que ela não se importará): "essas lições de partir são sonhos, meus sonhos. Pra mim, a partida da morte, não necessariamente, é a embalagem de madeira. Toda viagem, no fundo, é uma morte: uma morte que leva para uma vida. Uma vida que depois, mais cedo ou mais tarde, será morrida: será matada. Vamos partir. Par-tir." Sim, partir. Vamos partir.
sábado, 4 de julho de 2009
Dia cinzento
sexta-feira, 3 de julho de 2009
colecionador de nuvens
Nada
quarta-feira, 1 de julho de 2009
luz e silêncio
e da luz que adentra devagar
naqueles arredores do divino
silêncio e luz
penso que Deus seja assim
ando cultivando o silêncio
as angústias silenciaram
acalmo o coração
aqueço-o
num iluminado afago
com as exatas cores do vitral
a luz suave
e um calor-útero
aconchego
acho que é isso que chamam de paz.
eu chamo.