sábado, 25 de julho de 2009

Tempo

"Alice suspirou cansada. "Acho que você poderia aproveitar melhor o seu tempo", disse, "em vez de desperdiçá-lo propondo charadas que não têm resposta."

"Se você conhecesse o Tempo como eu conheço", disse o Chapeleiro, "não falaria em desperdiçá-lo como se fosse uma coisa. É um senhor."

"Não entendo o que você quer dizer", disse Alice.

"Claro que não entende", disse o Chapeleiro, atirando a cabeça desdenhosamente para trás. "Acho que você nunca sequer falou com o Tempo!"

"Talvez não", respondeu Alice cautelosamente, "mas sei que tenho de bater o tempo, quando estudo música."

"Ah! Isso explica tudo", disse o Chapeleiro. "Ele não suporta ser batido. Agora, se você mantivesse boas relações com o Tempo, ele faria quase tudo o que você quisesse com o relógio. Por exemplo, vamos supor que fossem nove da manhã, bem na hora de começarem as aulas. Você só teria de sussurrar uma dica para o Tempo, e o ponteiro giraria num piscar de olhos! Uma e meia, hora do almoço!"

("Como gostaria que fosse", disse a Lebre de Março para si mesma num sussurro.)

"Seria maravilhoso, certamente", disse Alice pensativa, "só que ... eu não estaria com fome."

"A princípio, talvez não", disse o Chapeleiro, "mas você poderia manter o relógio marcando uma e meia por quanto tempo quisesse."

"É assim que você faz?", perguntou Alice?

O Chapeleiro sacudiu a cabeça tristemente. "Não!", respondeu. "Brigamos no mês de março passado ... pouco antes de ela ficar louca, sabe..." (apontando com a colherinha para a Lebre de Março) "... foi no grande concerto dado pela Rainha de Copas, e eu tinha de cantar

'Pisque, pisque, morceguinho!'
O que faz aí sozinho?'

Você talvez conheça a canção."

"Já escutei algo parecido", disse Alice.
"Continua", disse o Chapeleiro, "da seguinte maneira:

'Sobre o mundo voa ao léu,
Bandeja de chá no céu.
Pisque, pisque...' "

Nesse momento, o Arganaz se sacudiu e começou a cantar dormindo "Pisque, pisque, pisque, pisque...". E continuou a cantar por tanto tempo que tiveram que lhe dar um beliscão para fazê-lo parar."

(Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas)

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