domingo, 5 de julho de 2009

Partidas

Uma amiga muito querida viaja hoje. Vai pra São Paulo, fazer um curso por lá. Depois do curso, vai ver o que acontece. Talvez volte, talvez fique por aquelas paragens. Apesar da viagem, porém, não a vi nos últimos dias, de forma que não deu pra gente se despedir. É, não deu, mas, confesso: isso não me incomoda. E não incomoda simplesmente porque isso não importa, já que, no fundo, seria algo meio sem sentido. Sim, meio sem sentido, uma vez que, embora ela vá, ela permanece, de alguma forma, aqui comigo, do mesmo jeito que eu, de alguma maneira, vou com ela. Sim, vou, de um jeito que já fui outras vezes e, sei, vou continuar a ir enquanto houver pessoas queridas partindo.

Antes tinha medo das partidas, mas elas foram se tornando frequentes e fui conhecendo-as melhor. Fui conhecendo-as mais e mais, até, finalmente, ter confiança pra brincar com elas, sim, brincar, como fazem as crianças, com total entrega. E foi assim que as partidas se tornaram minhas amigas, amigas que me ajudam a fazer cafuné nos sonhos e a criar sonhos novos, necessários pra que eu continue a me sentir viva e pra renovar o brilho dos olhos.

Ontem, pensando na viagem de que falava logo no começo deste post, lembrei de um verso de (Manuel) Bandeira que a minha amiga que viaja hoje, uma vez, me mandou. Diz assim: "Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir". Na ocasião, ela me escreveu (compartilho porque sei que ela não se importará): "essas lições de partir são sonhos, meus sonhos. Pra mim, a partida da morte, não necessariamente, é a embalagem de madeira. Toda viagem, no fundo, é uma morte: uma morte que leva para uma vida. Uma vida que depois, mais cedo ou mais tarde, será morrida: será matada. Vamos partir. Par-tir." Sim, partir. Vamos partir.

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