quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mario Benedetti

Tava eu, ontem, lendo um informativo jurídico da segunda-feira quando, de repente, me deparei com uma nota com o seguinte teor: "O escritor uruguaio Mario Benedetti morreu hoje em Montevidéu aos 88 anos." Li e parei. Como assim Mario Benedetti morto? Como? Tá, todo mundo morre e, afinal de contas, ele já tinha passado do tempo em que a morte, quando vem, é uma surpresa, mas, ainda assim, me surpreendi. Talvez porque, pra mim, ele era daquelas pessoas pra quem a morte não chega.

Depois de absorver a notícia, fui direto ao blog de Samarone (www.estuario.com.br), um jornalista aqui da cidade. É que descobri Mario Benedetti no blog dele. Como ele gosta muito de Benedetti, imaginei que, certamente, ele teria escrito algo a respeito. E lá estava: algumas linhas contando que Benedetti tinha escrito, em um de seus poemas, que gostaria de ter uma caneta ao seu lado, após a morte. Que coisa mais linda!, penso e penso, em seguida, que escrever é o que sempre nos salva. Também um parágrafo dizendo que a morte de Mario Benedetti havia começado depois da morte da mulher dele. Leio e me lembro de (Dorival) Caymmi, com quem acredito ter se passado a mesma coisa.

Ao final, leio um poema de Benedetti e me dou conta de que ele continua por aqui. À noite, saio pra assistir aula e, junto com o caderno, levo comigo um livro dele. Levo-o para sentir Mario Benedetti comigo, de alguma forma. Antes de dormir, ponho, cuidadosamente, o livro de volta ao lugar de onde o havia tirado. Ponho-o e lembro que Guimarães Rosa escreveu que "As pessoas não morrem. Elas ficam encantadas". Então penso: é isso! Ele continua por aqui, dizendo-nos que "não podemos (...) deixar que a canção se converta em cinzas."


"Por qué cantamos
Mario Benedetti

Si cada hora viene con su muerte
si el tiempo es una cueva de ladrones
los aires ya no son los buenos aires
la vida es nada más que un blanco móvil

usted preguntará por qué cantamos

si nuestros bravos quedan sin abrazo
la patria se nos muere de tristeza
y el corazón del hombre se hace añicos
antes aún que explote la vergüenza

usted preguntará por qué cantamos

si estamos lejos como un horizonte
si allá quedaron árboles y cielo
si cada noche es siempre alguna ausencia
y cada despertar un desencuentro

usted preguntará por que cantamos

cantamos por qué el río está sonando
y cuando suena el río suena el río
cantamos porque el cruel no tiene nombre
y en cambio tiene nombre su destino

cantamos por el niño y porque todo
y porque algún futuro y porque el pueblo
cantamos porque los sobrevivientes
y nuestros muertos quieren que cantemos

cantamos porque el grito no es bastante
y no es bastante el llanto ni la bronca
cantamos porque creemos en la gente
y porque venceremos la derrota

cantamos porque el sol nos reconoce
y porque el campo huele a primavera
y porque en este tallo en aquel fruto
cada pregunta tiene su respuesta

cantamos porque llueve sobre el surco
y somos militantes de la vida
y porque no podemos ni queremos
dejar que la canción se haga ceniza."

Nenhum comentário:

Postar um comentário