quarta-feira, 27 de maio de 2009

Corpos





Essas imagens são de um trabalho da artista cubana Ana Mandieta, Body Tracks (Rastros Contemporales). Nele, ela se propôs a mexer com a ideia de um auto-retrato em ruinas. Ela queria apresentar o corpo dela (sim, é ele que aparece nessa série de fotos) como um corpo não individualizado, como um corpo igual a todos os outros corpos. Isso me lembrou muito Tereza, um personagem de (Milan) Kundera, me lembrou muito algo que ele escreve sobre ela: "Agora podemos compreender melhor o sentido do vício secreto de Tereza e de suas longas e repetidas permanências diante do espelho. Era um combate com sua mãe. Era o desejo de não ser um corpo como outros corpos, mas de ver sobre a superfície de seu rosto a tripulação da alma surgir do ventre do navio." E mais adiante: "(...) Viera viver com ele para escapar do universo materno, em que todos os corpos eram idênticos. Viera viver com ele para que seu corpo se tornasse único e insubstituível. E eis que ele traçava um sinal de igualdade entre ela e as outras, beijando todas da mesma maneira, distribuindo as mesmas carícias, não fazendo nenhuma, nenhuma, mas nenhuma diferença entre o corpo de Tereza e os outros corpos. Ele a devolvia ao universo do qual pensava ter escapado. (...)" (A insustentável leveza do ser)

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