quinta-feira, 30 de abril de 2009
Boasvindas
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Da indiferença
Não, na verdade ela não pensava sobre nada disso naquele momento... Enquanto era acometida pelo choro ela apenas punha pra fora todas as dores, tudo o que guardara durante anos a fio. Era um misto da dor com uma indescritível sensação de liberdade, a liberdade pelas lágrimas. Quem observava a indiferença era eu.
Também aparentemente indiferente.
E dizia:
"Coma chocolates, pequena;
Coma chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."
(Fernando Pessoa)
Desabafo
É, eu tenho certeza, porque comprei os tais incensos na "Mundo Verde" do Plaza há um mês e, quando fui ver, antes de ontem, todos tinham mais de um ano de vencidos. Minha vontade foi a de ir lá reclamar, mas, como não conservava mais a nota fiscal, não havia muito o que fazer, talvez apenas mencionar o fato quando eu for à "Mundo Verde" de novo. De todo modo, a partir de agora, serei mais atenta a essa questão da validade dos incensos, mesmo porque acho que é algo completamente negligenciado pelos comerciantes, que, imagino, não cogitam da existência de prazo de validade no que se refere a incensos. O desconhecimento deles, contudo, não afasta a responsabilidade que, por força do Código de Defesa do Consumidor, têm. Isso porque esse diploma legal - desculpem a eventual chatice - consagra, no seu art. 18, a responsabilidade objetiva (sem necessidade de prova de dolo ou culpa) dos fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis que tragam vícios de qualidade (prazo de validade ultrapassado, por exemplo) ou quantidade que, dentre outras coisas, os tornem impróprios ou inadequados ao consumo. O CDC é tão atento à questão que, além de determinar ser a responsabilidade objetiva nesses casos, diz, ainda, que se trata também de responsabilidade solidária, pelo que mesmo o fabricante pode ser responsabilizado caso o comerciante venda o produto daquele (do fabricante) após expirada a validade.
Em todo caso, porém, o melhor, inclusive pra evitar dor de cabeça, é checar o prazo de validade, tanto dos incensos, como de tudo o mais. Quando a gente esquecer disso, todavia, e se deparar com um produto com prazo de validade expirado, é preciso, apesar de ser algo chato e até desgastante de fazer, reclamar. Reclamar pra que o consumidor seja tratado com mais cuidado. Reclamar porque, nessas situações, realmente é preciso. E como é!
terça-feira, 28 de abril de 2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Cabelo II
Corto todo o meu cabelo. Eu, sozinha. Corto-o em silêncio. É um ritual. Ninguém me vê. Somos apenas a tesoura e eu e os cabelos que pela cama vão se espalhando. A porta está fechada e eu estou sublime. Agora, agora que já comecei, percebo que isso não é uma passagem. Ao contrário. É uma volta à origem, à minha origem primeira.
Os pedaços que corto são pequenos. Dois, três centímetros no máximo. Mas eu quero que seja assim. Quero que tudo se passe devagar. Estou suspensa no tempo. Ao meu redor, os pedaços de cabelo vão formando um círculo conforme caem. Algo se cria entre eles e eu. Algo que nunca existiu, mas necessário para que, depois, eu possa abandoná-los.
Em verdade, eles nunca foram meus. Como tu. Mas também no teu caso eu preciso fazer real o elo que o meu pensamento acredita existir. Só então poderás partir. Após me teres ensinado o caminho que é capaz de se fazer depois de ti. Perdão.
O último pedaço de cabelo cai. Percebo que eles são bonitos. Ganharam vida ao cair no chão da minha cama. Não sorrio, não choro, estou suspensa do meu eu de há pouco. Volto ao lugar de onde me havia perdido. Apanho um tubo de cola. Serenamente, recolho algumas canetas, ponho-as sobre a cama e, uma a uma, revisto-as com os cabelos que, pacíficos, não reagem ao toque dos meus dedos.
domingo, 26 de abril de 2009
Cabelo
- Engraçado você achar que cabelos bastam pra dar a alguém ar de romantismo - respondeu.
- Acho que podem dar sim - disse de novo a primeira. E completou: - Eu mesmo mandei deixar o meu liso desse jeito porque, embora eu preferisse ele do jeito que tava (liso, mas não demais e com certo volume), tava achando aquilo romântico demais e eu andava sem forças pra levar comigo romantismo. Desse modo, pedi pra o meu cabeleireiro deixar assim. Pra eu me sentir uma pessoa pragmática.
sábado, 25 de abril de 2009
Música
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Nós
"O nós é o envoltório que, em virtude de minha vida, recobre a mim e a quantos existenciei e existencio."
(Evaldo Coutinho, "Ser e estar em nós")
quinta-feira, 23 de abril de 2009
você tem fome de quê?
Necessidade é uma palavra que oprime e que limita.
Eu tenho fome de arte.
"Bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte.
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comer,
a gente quer comer e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?"
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Gran Torino
Sempre cultivei, em certa medida, o hábito de ir só ao cinema. Quando quero ver um filme de (Clint) Eastwood, porém, como, vocês sabem, é o caso de "Gran Torino", uma das primeiras coisas que faço é achar alguém pra me acompanhar. Sim, porque Eastwood, embora me pareça magnífico, alguém que sabe dosar força (me refiro mais à força interior que à física) e sensibilidade ao mesmo tempo, via de regra, mexe comigo o suficiente pra me deixar, de alguma forma, mais vulnerável (digo 'mais vulnerável' porque, no meu entender, todos somos vulneráveis em certa medida. Alguns mais, outros menos, mas todos vulneráveis). Assim, fomos, ontem, Isabelle, uma amiga de longa data (como me disse ela ontem, amiga minha há "metade das nossas vidas"), e eu assistir a "Gran Torino".
Que filme maravilhoso! Como comentei após a sessão, o que de melhor já vi de Eastwood.
Confesso que só fui ver "Gran Torino" por ter sido dirigido por (Clint) Eastwood. Verdade, praticamente por obrigação, porque o trailer, com aquele enfoque todo e basicamente só na violência, não me atraiu. Fui, dessa maneira, imaginando que o acharia bom, mas só isso. Nada além. Qual não foi minha surpresa, portanto, ao ir me envolvendo mais e mais com o filme, até o ponto de, perto do final, estar - me desculpem o drama, mas foi isso mesmo - banhada em lágrimas. Banhada em lágrimas por tudo o que se havia desenrolado diante dos meus olhos, por ver como, por vezes, laços de sangue quase nada significam e como certos laços que construímos com outras pessoas que, por um motivo ou por outro, irrompem em nossas vidas podem ser significativos, podem nos ajudar e ajudar o outro no caminho. Laços e, entre outras coisas, filmes também, claro. :)
o mar
A gandaia das ondas que o barco balança
Batendo na areia molhando os cocares dos coqueiros
Como guerreiros da dança
Oh! quem não viu vá ver
A onda do mar crescer
Oh! quem não viu vá ver
A onda do mar crescer"
as águas cor-de-verdesazuisvivos.
ver a onda quebrar.
sentir o sal.
e sol.
banhar-me no mar.
encher-me de mar.
largar no mar o que está em mim, mas não me integra.
deixar que a onda leve.
deixar que me leve.
deixar-se leve.
ser-se leve.
banhar a alma.
e deixar o sol secar.
o sol entrar.
amanhecer-se.
amanhecer-me.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Consta ...
"Dueto
Composição: Chico Buarque
Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca"
segunda-feira, 20 de abril de 2009
terra
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão"
Ouvi estes dias um díscipulo de mestre Vitalino que ele tirava do barro o pão.
É a terra dando a vida. De uma nova forma, de uma forma diferente.
Mas ainda assim da terra nasce a vida.
Chuva
domingo, 19 de abril de 2009
palavras
Até lá, Laura sucintamente vivia e falava.
Alter mordernism
No site do Tate, tem um cartoon, didático como só os cartoons sabem ser, que explica o alter mordernism. Pra quem se interessar, fica o endereço: http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/altermodern/cartoon.shtm.
Tem ainda uns "arquivos" musicais, que valem nem que seja por curiosidade. Deixo também o endereço: http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/altermodern/mixtape.shtm.
sábado, 18 de abril de 2009
Fotos
sexta-feira, 17 de abril de 2009
O rio
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa."
"Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai"
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Costura II
Mas Magnólia insistia e continuava a costurar o tecido da vida.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Costura
terça-feira, 14 de abril de 2009
Intertextualidade
"Geni E O Zepelim
Composição: Chico Buarque
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"
Só pra registrar: os monstros, felizmente, terminam por ter algum reconhecimento.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Colcha
domingo, 12 de abril de 2009
Coração
Foi em uma manhã de domingo
Que ela encontrara o coração
Desbotado e esquecido
Dentro de uma lata de leite
Com cautela, tomou-o nas mãos
E, de imediato, soube
Que era preciso dá-lo
Ao único homem capaz de reanimá-lo
A tarefa era fácil
Porque o tal homem
Ela sabia bem quem era
Sabia e alegrava-se
Por ele ser uma razão (e não outra coisa)
Na vida dela
Mas talvez porque tudo fosse tão simples
Ela meteu os pés pelas mãos
Em lugar de entregar ao homem o coração (qual o encontrara)
Fez, antes, uso de pincel e tinta
Para que o coração parecesse
Mais apresentável
Acontece que o homem
Sem saber da fragilidade do coração
Não o tratou com o devido cuidado
E ele terminou por parar
De bater
Ao se darem conta
Da morte do coração
O homem e a mulher choraram
Em silencio
Mas nada mais havia
A uni-los
De modo que a cada qual só restava
Chorar a dor e, enfim, partir
sábado, 11 de abril de 2009
Totem
Aqui vai:
"Para espantar (fosse o que fosse) ou atraí-lo
Você pintava corações em tudo.
Era o seu único logotipo.
O seu objeto sagrado.
Às vezes, em torno dele, você pintava uma coroa
De flores infantis, folhas verdes, pétalas amarelas.
Às vezes, ao lado, um azulão de criança.
Mas, quase sempre, corações. Ou um só simples coração vermelho.
Você pintou de preto a moldura do espelho grande -
E, sobre o preto, corações.
E, na sua velha máquina de costura Singer preta, -
Corações.
Vermelho sobre negro, como lampadinhas.
E, no berço que eu fiz para uma boneca, você pintou
Corações.
E, na soleira por onde entrou seu filho,
Um coração -
Vermelho sobre negro, como sangue respingando.
O coração era seu talismã, sua magia.
Como os cristãos têm sua Cruz, tinha você o coração.
Constantino tinha a Cruz - você, o coração.
Seu Gênio da Garrafa. Anjo da Guarda. Escravo Demoníaco.
Quando você, porém, buscava proteção
No seio do seu Anjo da Guarda,
Era o seu Escravo Demoníaco. Igual a um
Peixe fêmea possessivo, na ânsia de proteger você,
Ele a devorou.
Agora as pessoas só vêem
Seu livro da cor do coração - a máscara vazia
Do seu Gênio.
A máscara
De quem abriu os braços como que para abraçá-la
E a devorou.
Os coraçõezinhos que você pintava em tudo
Ficaram, como o rastro do seu pânico.
Respingos de uma ferida.
Os rastros
De quem captou você e a devorou."
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Versos de Ted Hughes
Como se ansiasse por uma droga. A abstinência de subcorrentes
A cegava, sufocava. Escurecia a escuridão já escura.
Como era imunda a Inglaterra! Só mesmo o mar
Para areá-la. Os sais do oceano purgariam você.
Você queria ser lavada, areada, quarada.
Aquela "jóia na cabeça" - a extensão trovejante, luminosa
De espuma em Nauset. O despropósito de caranguejos
E corrupios. Como ânsia de oxigênio,
Você sonhava antigos verões americanos, a pele negra de sol -
Alguma profecia perdida em algum lugar. A Inglaterra
Era tão pobre! Seria a tinta preta mais barata? Por que eram pretos
Todos os carros ingleses? Para esconder a sujeira?
Ou para serem respeitáveis, como os chapéus-coco
E os guarda-chuvas? Todo veículo era um carro fúnebre.
O trânsito, um remanescente silencioso
Do interminável enterro de Vitória -
O funeral da cor, da luz, da vida!
(...)"
Esses versos são parte de um poema escrito por Ted Hughes, que foi casado com Sylvia Plath. O poema se chama "A praia" e é uma especie de diálogo com Sylvia.
Tou já terminando o livro em que li esse poema ("Cartas de aniversário"), mas gostei tanto dos versos aí de cima que fiquei com vontade de compartilhar. Esses e os de um outro poema, que posto amanhã. :)
quinta-feira, 9 de abril de 2009
O piano
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Ritual
terça-feira, 7 de abril de 2009
Chuva de verão
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Questões
E a cereja do bolo, como a gente reconhece ela?
domingo, 5 de abril de 2009
Domingo
Sigo com aquelas imagens na memoria. Elas me alimentam.
sábado, 4 de abril de 2009
Estar
Deve ser por isso que dormir é tão bom.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
quinta-feira, 2 de abril de 2009
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Estrada
... porque, na estrada, predomina uma sensação de total liberdade, de inexistencia de amarras. Na impossibilidade de pegar a estrada todo dia, porém, uma foto me parece não uma boa válvula de escape, mas um útil lembrete, o lembrete de que a estrada sempre tá lá, disponível. O lembrete de que há outros caminhos possíveis.
A imagem aí do lado faz parte da serie "Campo Cego", de Cao Guimarães e Carolina Cordeiro.