domingo, 19 de abril de 2009

palavras

Laura era uma mulher sisuda, de poucas palavras. Não, ela não desperdiçava as palavras. Caçava-as. Tinha o hábito de fazer passeios matinais pelas calçadas das ruas do seu bairro. Era nesses momentos que recolhia as palavras proferidas displicentemente pelos traseuntes, palavras desperdiçadas. Recolhia-as e guardava cuidadosamente no seu repertório. Costumava proferir apenas as palavras necessárias. Precisas. Nem mais, nem menos. Não gostava de exageros. Também não era daquelas senhoras chatas ou por demais rigorosas. Não era boba também. Atenta aprendeu que para falar e escrever é preciso ouvir e ler. Então exercitava esse hábito. E recolhia as palavras caídas pelo chão. Esperava um dia a sua grande explosão. O seu grande momento. Neste dia, ela diria todas as palavras jogadas, desprezadas. Neste dia, a sua pequena vida brilharia. Laura vestiria uma roupa dourada. Ou de qualquer outra cor. Não importava. O importante é que neste dia todas as palavras não ditas ou ditas e não ouvidas, seriam pronunciadas em todas as suas sílabas, todos os seus sons.
Até lá, Laura sucintamente vivia e falava.

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