sábado, 11 de abril de 2009

Totem

'Totem' é o nome do poema de Ted Hughes que prometi ontem.
Aqui vai:


"Para espantar (fosse o que fosse) ou atraí-lo
Você pintava corações em tudo.
Era o seu único logotipo.
O seu objeto sagrado.
Às vezes, em torno dele, você pintava uma coroa
De flores infantis, folhas verdes, pétalas amarelas.
Às vezes, ao lado, um azulão de criança.
Mas, quase sempre, corações. Ou um só simples coração vermelho.

Você pintou de preto a moldura do espelho grande -
E, sobre o preto, corações.
E, na sua velha máquina de costura Singer preta, -
Corações.
Vermelho sobre negro, como lampadinhas.

E, no berço que eu fiz para uma boneca, você pintou
Corações.
E, na soleira por onde entrou seu filho,
Um coração -
Vermelho sobre negro, como sangue respingando.

O coração era seu talismã, sua magia.
Como os cristãos têm sua Cruz, tinha você o coração.
Constantino tinha a Cruz - você, o coração.
Seu Gênio da Garrafa. Anjo da Guarda. Escravo Demoníaco.

Quando você, porém, buscava proteção
No seio do seu Anjo da Guarda,
Era o seu Escravo Demoníaco. Igual a um
Peixe fêmea possessivo, na ânsia de proteger você,
Ele a devorou.

Agora as pessoas só vêem
Seu livro da cor do coração - a máscara vazia
Do seu Gênio.
A máscara
De quem abriu os braços como que para abraçá-la
E a devorou.

Os coraçõezinhos que você pintava em tudo
Ficaram, como o rastro do seu pânico.
Respingos de uma ferida.

Os rastros
De quem captou você e a devorou."

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