quarta-feira, 29 de abril de 2009

Da indiferença

Ela chorava compulsivamente no ônibus. Soluçava. Mas o que lhe impressionava era a indiferença alheia. Não, ela não queria ter uma longa conversa com um desconhecido. Nem ouvir conselhos, ou ter um ombro amigo. Mas se espantava com a indiferença. Era como se as pessoas não vissem o que lhe acontecia. Cada qual, inclusive ela, absurdamente enclausurado em seus problemas.

Não, na verdade ela não pensava sobre nada disso naquele momento... Enquanto era acometida pelo choro ela apenas punha pra fora todas as dores, tudo o que guardara durante anos a fio. Era um misto da dor com uma indescritível sensação de liberdade, a liberdade pelas lágrimas. Quem observava a indiferença era eu.

Também aparentemente indiferente.

E dizia:
"Coma chocolates, pequena;
Coma chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."
(Fernando Pessoa)

2 comentários:

  1. Eu tenho uma história de indiferença também, mas ela tem um fundo mais social. Depois te conto a história.

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  2. vc tem razão qd fala na liberdade pelas lágrimas.
    como tem! :)

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